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RESUMOS APROVADOS - ISBN: 978-85-516-0119-8


O DRAMATURGO RAPSODO: HOMERO COMO DRAMATURGO E A DRAMATURGIA DO FUTURO SEGUNDO J-P. SARRAZAC

MOTA, Marcus. Universidade de Brasília (UnB).
 

RESUMO

As históricas relações entre a performance rapsódica e a dramaturgia ateniense foram retomadas por J.-P. Sarrazac, que defende uma forma híbrida entre drama e narrativa como modelo para escritas cênicas contemporâneas. Nesta comunicação, após explicitar as linhas básicas da argumentação de J.-P. Sarrazac, apresento o contexto do rapsodo na Antiguidade, procurando esclarecer em que sentido podemos compreender a arte de um performer narrativo como uma atividade dramatúrgica. Nessa direção, o conceito de uma ‘dramaturgia rapsódica’ deixa de ser um exotismo ou uma artificial combinação de palavras para iluminar um momento axial na dramaturgia ocidental quando não se tinha uma definição exclusiva da experiência de se propor para a audiência um evento multissensorial. Nesse momento, o intercruzamento de diversas tradições performativas promoveu um intercampo de procedimentos e habilidades que não se esgotou na Antiguidade. Seria a escrita cênica o enfrentamento dessa situação heterogênea, plural, na qual as tensões entre drama e narrativa parecem marcar seus limites e possibilidades? 
 

PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Rapsodo; Sarrazac.

REFLEXÕES SOBRE A CRIAÇÃO DE PERSONAGENS NA DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA A PARTIR DE UM RELATO DE EXPERIÊNCIA


MENDES, Edilberto da Silva. Universidade Federal da Bahia (UFBA) / Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC). Doutorando. 

RESUMO

Relato de experiência de criação da dramaturgia do espetáculo A Canoa São Sebastião, associada a uma reflexão teórica com foco na composição de personagens. Trata-se de um processo colaborativo entre dramaturgo e elenco, tendo como ponto de partida as existências reais de João e Raimunda, de Altamira-PA, reconstruídas em reportagem de Eliane Brum (2015) sobre os deslocamentos forçados pela desapropriação de terras para a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Assumem-se as noções de dramaturgia do real, lenda e fábula, referidas por Michel Foucault no texto A Vida dos Homens Infames (2003) como operadores na construção da cena. Para a comunicação aqui proposta, essas noções são retomadas a fim de problematizar as considerações de Jean-Pierre Sarrazac (2002) sobre a criação de personagens no drama contemporâneo, sobretudo no que diz respeito à recusa da coalescência da personagem de teatro e da pessoa humana. 
 

PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia, personagem, real, relato.

ESTRATÉGIAS METADRAMÁTICAS E MONODRAMÁTICAS NA CENA CONTEMPORÂNEA: OS DESVIOS DE JOÃO FALCÃO


SANCHES, João (João Alberto Lima Sanches). Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Doutor e mestre em Artes Cênicas pelo PPGAC-UFBA. Dramaturgo, encenador e iluminador. 

RESUMO


Este estudo desenvolve uma reflexão sobre estratégias de composição, recorrentes na dramaturgia contemporânea, a partir de mapeamento e análise comparativa de textos encenados no Brasil. As obras dramáticas em questão apresentam uma série de emersões épicas e líricas nas quais a autorreflexividade é a principal qualidade evidenciada. Essas emersões constituem diferentes procedimentos de relativização/abertura de sentido, conceituados neste estudo como desvios. Esta comunicação, em particular, concentra-se na reflexão sobre desvios associados às noções de metadrama e monodrama. São discutidos aspectos das peças Uma noite na lua, A dona da história e Clandestinos, escritas e encenadas pelo dramaturgo pernambucano João Falcão. As três referidas obras apresentam uma articulação particular entre procedimentos monodramáticos e metadramáticos – desvios/procedimentos que também podem ser associados a intrigas de dramaturgos como August Strindberg (monodramas) e Luigi Pirandello (metadramas). As noções utilizadas e a metodologia da pesquisa têm como principal referência os trabalhos do teórico e dramaturgo francês JeanPierre Sarrazac e seu Grupo de Pesquisas sobre o Drama, da Universidade de Paris III. Entre outras referências, este estudo também dialoga com os trabalhos da teórica e dramaturga brasileira Cleise Mendes, coordenadora do Grupo de Pesquisa Dramatis – Dramaturgia: mídias, teoria, crítica e criação, da Universidade Federal da Bahia. 


PALAVRAS-CHAVE: Desvio; Dramaturgia contemporânea; Metadrama; Monodrama.


ESTABELECENDO RELAÇÕES CRIATIVAS ENTRE A TRADUÇÃO E A ENCENAÇÃO


CAMPANELA MIÑOZ, Esteban Francisco. Mestre em Estudos da Tradução (PGET) e doutorando em Literatura (UFSC).


RESUMO

A presente comunicação pretende expor as múltiplas possibilidades que o texto teatral oferece como objeto de estudo genético transdisciplinar, assim como as reais possibilidades de tradução intersemiótica. Quando falamos de tradução de textos teatrais, temos que saber que falamos de problemas diferentes aos da tradução literária. Antes de abordar o processo tradutório, observemos alguns dos aspectos de um texto teatral. É necessário e imprescindível entender um texto teatral, compreender sua estrutura e analisar os diversos fatores que atuam num texto dramático para, depois de compreender o funcionamento deste tipo de texto e suas particularidades, encarar a tradução, a qual nos apresentará problemas diferentes aos encontrados em outro tipo de traduções. Como tradutor e pesquisador de processos criativos, os trabalhos em Mi Muñequita e Uz de Calderón e Kassandra de Sergio Blanco, autor franco-uruguaio também montado pela La Vaca, me possibilitaram encontrar um espaço dentro de um coletivo de artistas criadores. A partir da ideia do teatro como unificador de culturas através da abordagem de questões de caráter universal, esses artistas buscam estabelecer comunicação profunda entre as culturas, e neste sentido a tradução de textos teatrais é ferramenta importante de aproximação e diálogo. Por essa razão, em futuras montagens pretendo trabalhar novamente em parceria com a equipe, procurando manter as relações criativas entre a tradução e a encenação, a fim de repetir a adaptação bem-sucedida da obra para a língua portuguesa e para a realidade brasileira. 

PALAVRAS-CHAVE: intersemiótica; encenação; relações.


A DRAMATURGIA PERFORMATIVA DE RODRIGO GARCÍA E A PRODUÇÃO DE CORPOREIDADES


DAMASCENO, Camila. UNICAMP. PPG – Artes da Cena; Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas; Mestrado; Orientação Matteo Bonfitto Jr. FAPESP.
 

RESUMO

O presente resumo refere-se à dissertação de mestrado defendida e aprovada no Programa de Pós-graduação em Artes da Cena, da Universidade Estadual de Campinas, em dezembro de 2015. Tal dissertação consiste na investigação da construção dramatúrgica de Rodrigo García (dramaturgo e encenador do grupo La Carnicería Teatro/Espanha) e a produção de corporeidades a partir da análise dos processos de criação e das obras selecionadas, considerando a perspectiva de um Teatro Performativo, com foco na copresença de uma camada de exploração das materialidades cênicas – como as palavras, corpos, objetos, cenários, sons e luzes – e uma camada de criação de significados e discursos carregados de conteúdo fortemente político. A metodologia baseou-se na fenomenologia e os caminhos da pesquisa indicaram um trabalho específico de dramaturgia performativa que busca articular não somente os sentidos, mas também as corporeidades, a partir de uma constante fricção, proporcionando uma multiestabilidade perceptiva tanto nos atores quanto no público. 


PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Atuação; Performatividade; Teatralidade; Cena.


A OBRA DE CARLOS ALBERTO SOFFREDINI: UMA BAGUNÇA RAPSÓDICA?


TORTORELLA, Maria Emília. Campinas: UNICAMP. Doutoranda em Artes da Cena (Bolsa FAPESP)

RESUMO


Este trabalho pretende pensar a obra do dramaturgo brasileiro Carlos Alberto Soffredini a partir da Poética do Drama Moderno, do teórico francês Jean-Pierre Sarrazac, que defende a dimensão rapsódica (uma forma aberta e mais livre) do drama moderno. Levo em consideração também as ideias do Teatro Bagunça, do crítico modernista brasileiro Antônio de Alcântara Machado, que ainda na década de 1920 preconizava que a modernização do teatro brasileiro poderia vir do aproveitamento das manifestações da cultura popular brasileira, as quais ele chamava de Bagunça. Essa relação justifica-se no fato da obra de Soffredini ser resultado de um projeto estético conscientemente elaborado pelo artista a partir da nossa cultura popular – tal como desejava Machado –, fruto de muita reflexão teórica e intelectual, bem como de muita dedicação à práxis cênica, levando-o a alcançar dramaturgias que esgarçam os limites entre os gêneros poéticos e explodem convenções formais pré-estabelecidas, alcançando uma linguagem moderna, original e inovadora em vários aspectos – o que o aproxima dos conceitos defendidos por Sarrazac.

PALAVRAS-CHAVEAntônio de Alcântara Machado; Carlos Alberto Soffredini; Jean-Pierre Sarrazac; poética do drama moderno; teatro bagunça.
 

DESCONCERTO NÚMERO 1 – PARADOXOS DA CONFERÊNCIA-PERFORMANCE


PINOTTI, Aurélio. UNICAMP. Doutor. FERREIRA COSTA, Ana. UFPR. Mestre. CATALÃO, Marco. USP. Pós-doutorando.

RESUMO

 

Tomando como ponto de partida o espetáculo Dislocation, da companhia Nomade, apresentado em março de 2016 na sede do Théâtre du Soleil, em Paris, esta comunicação tem como objetivo estabelecer um debate sobre o potencial epistemológico do discurso fictício e o efeito performativo do discurso crítico. Tomaremos como eixo de nossa discussão a conferência-performance, dispositivo híbrido inaugurado pelas ações de Robert Morris, John Cage e Joseph Beuys nas décadas de 1960 e 1970, e que hoje é uma modalidade importante da criação e da reflexão artística contemporânea. Com características particulares, os trabalhos de Éric Duyckaerts, Joana Craveiro, Hans-Jürgen Frei, Walid Raad e Pierre Cleitman podem ser inseridos nesse gênero híbrido que problematiza as fronteiras entre crítica e invenção, cujas ações salientam ou desvelam os aspectos performativos já latentes em qualquer comunicação para um auditório: a tensão entre as informações discursivas e as informações não discursivas; o descompasso entre roteiro e execução; a incerteza da tríplice relação entre o enunciador, o enunciado e o espectador.

PALAVRAS-CHAVE : conferência-performance; dramaturgia; crítica teatral; teatro virtual; crítico-rapsodo.


MALDITOS DRAMATURGOS! – ESCRITA EM COLETIVO


MEDEIROS, Vana. Malditos Dramaturgos!. Dramaturga, jornalista e discente de Pós-Graduação em Roteiro para Cinema e TV pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP. REAL, Livy. Rachadura Cia/ IBM Research/CNPq. Dramaturga, linguista, poeta.

RESUMO

 

Apresentamos a experiência de escrita compartilhada do coletivo  Malditos   Dramaturgos! durante o projeto Paisagens Malditas, desenvolvido em 2015. Abordaremos, portanto, a idealização, produção e desenvolvimento deste trabalho, que objetivou a criação de uma peça dramatúrgica escrita por todos os artistas do coletivo e que pretende promover uma experiência de recepção para o público livre e individual. A obra foi estruturada em formato de audiotour, uma peça poética em áudio a ser fruída durante um percurso a ser idealmente realizado pela Praça Franklin Roosevelt, São Paulo, onde se dão as principais atividades do festival. A pesquisa artística partiu do estudo da historicidade do local e do levantamento das possíveis cargas semânticas que aí se instauram, em esferas cotidianas, sociais e políticas. Então partiu-se para a criação de materiais que dialogassem com este espaço e que constituíssem uma camada poética aí sobreposta, ressignificando a concretude do espaço através dos poemas sonoros. Desta maneira, a interação do público com o texto teatral não aconteceu da maneira canônica, mas explorando o espaço físico e poético do festival, de maneira livre e individual. O coletivo, criado em São Paulo em 2013, se dedica à criação, aprofundamento e divulgação de trabalhos artísticos, especialmente dramatúrgicos. Para isso, utiliza-se de diversas formas, como reuniões quinzenais de discussão das obras, leituras abertas ao público, oficinas de escrita e compartilhamento de processos. O Paisagens Malditas apresentou-se como uma destas iniciativas, durante o Festival Satyrianas 2015.

PALAVRAS-CHAVE: dramaturgia; malditos dramaturgos!; teatro; coletivo; escrita dramática; dramaturgismo em coletivo; audiotour; escrita multimídia.
 

CAVALO DE SANTO – SINCRETISMO EM UMA EXPERIÊNCIA DE DRAMATURGIA DIALÉTICA


JUGUERO, Viviane. Aluna Bolsista no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Doutorado.

RESUMO

 

Em janeiro de 2016, estreou na Alemanha, o espetáculo CAVALO DE SANTO, com texto de minha autoria, criado a partir de ideia original do diretor Jessé Oliveira. Elaborado com base na cultura nacional, o trabalho apresenta um diálogo entre o sincretismo da religião afro-brasileira (que representa a parte quente e ativa) e um sincretismo cultural de tipos sociais estereotipados (parte fria e inerte) externalizado em cena nos conflitos morais, ideológicos e éticos dos personagens. A intenção é dialogar e desestabilizar os referenciais que esse público estrangeiro possui a respeito do Brasil, propiciando novas percepções sobre nosso país. Enquanto pesquisadora, tenho desenvolvido uma investigação sobre dramaturgia dialética na contemporaneidade, inspirada nas propostas de Bertolt Brecht e Augusto Boal e embasada em seus princípios teóricos em diálogo com os trabalhos de Patrice Pavis, Anne Ubersfeldt, Marco de Marinis e Jorge Dubatti, dentre outros autores. O presente estudo busca refletir sobre em que medida os pressupostos teóricos dialogaram com a prática da escrita realizada; como essa prática contribuiu no desenvolvimento das reflexões teóricas; e quais os questionamentos e críticas que resultaram desse processo. Para tanto, o trabalho contará com entrevistas concedidas pelo diretor Jessé Oliveira e pela dramaturgista Bárbara Kastner, bem como com matérias de jornal que relatam de que forma essa obra repercutiu nesse público estrangeiro, visto que não estive presente nas apresentações. A esse respeito, reflito também sobre a autonomia do texto em relação ao dramaturgo. Por fim, apresento imagens em fotos e vídeo para contribuir nas percepções sobre o trabalho.


PALAVRAS-CHAVE :  Dramaturgia; dialética; sincretismo.
 

UM PASSEIO PELO MUNDO DOS PROGRAMAS DE TEATRO: A COMPANHIA BRASILEIRA DE TEATRO


RODRIGUES, Angélica Mayara Gonçalves. Universidade Federal do Paraná. Mestrado em Literatura.

RESUMO

 

Em seus estudos sobre as relações transtextuais, Gérard Genette define uma dessas categorias em paratextualidade ou transcendência textual do texto. Como o mesmo aponta, o paratexto é formado por duas modalidades, o peritexto e o epitexto. O peritexto dá continuidade direta ou unidade à obra, com o nome do autor, os títulos, indicações, capa, ilustração e outros elementos que circundam o texto dentro do espaço da própria obra. Já o epitexto relaciona-se a elementos que não dão uma continuidade direta à obra. Estes tomam forma de suportes midiáticos, por exemplo, notícias de jornal, entrevistas e suportes privados, cartas pessoais, diários etc. No tocante ao nosso trabalho, este último, o epitexto, será objeto de nosso estudo, mais precisamente o programa teatral. O programa de teatro existe há alguns séculos e já teve formatos e funções das mais diversas. Segundo o professor Doutor Walter L. T. Neto, existem ênfases específicas em cada programa; são elas: histórica, genética, estética e didascália. E, a partir da análise dos discursos dos agentes criativos e a ficha técnica dos programas teatrais da Companhia Brasileira de Teatro, estaremos mapeando e problematizando algumas tendências e dinâmicas relativas à escolha dos textos dramáticos, autoria, processos de criação de texto e diferentes empregos do termo dramaturgia.

PALAVRAS-CHAVE: Programas de teatro; Dramaturgia; Coletivo.


CORPO A CORPO: A MATURIDADE ARTÍSTICA DE VIANINHA NA CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM VIVACQUA


VILLARES, Rafael de Souza. UNICAMP. Doutorando em Artes da Cena.

RESUMO

 

Durante a década de 1970, o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho registrou, em suas obras, as angústias e contradições dos militantes políticos de esquerda que foram obrigados a conviver com a repressão do Regime Militar. Alvo de duras críticas tanto da esquerda, que acreditava que as posições do Partido Comunista Brasileiro – PCB estavam ultrapassadas, e que por ir trabalhar na TV Globo havia se vendido ao sistema capitalista, quanto da direita, que via sua produção como um panfleto do Partido. Nesse sentido, ganha destaque o monólogo Corpo a corpo, escrito em 1970, que retrata uma noite de angústia da personagem Vivacqua. Um publicitário insatisfeito com sua vida profissional, pois seu sonho sempre foi ser cineasta, com problemas amorosos e familiares. Essa obra, além de retratar em última instância a perspectiva vivida pelo dramaturgo, apresenta certa maturidade de Vianna Filho, ao construir uma personagem com múltiplas características, que a tornaram mais viva.


PALAVRAS-CHAVE: ODUVALDO VIANNA FILHO; CORPO A CORPO; REALISMO CRÍTICO.


ESCREVER NO LABIRINTO: FORMAÇÃO EM DRAMATURGIA NA PÓS-MODERNIDADE
 
SOUZA, Vinícius. Programa de Pós-Graduação em Artes da EBA/UFMG. Mestrado.

RESUMO


O escritor argentino Jorge Luis Borges descreveu certa vez, em um de seus contos, um livro que era na verdade um labirinto: nele não havia tempo e espaço absoluto, tudo poderia ir e vir com notável fluidez, todas as possibilidades eram possíveis e reais. O labirinto descrito por Borges pode ser usado como metáfora do texto teatral contemporâneo e a diversidade de formas que ele vem tomando, sobretudo com o radical alargamento do drama a partir do século XX. Dado este complexo pano de fundo, pergunta-se: Como se forma um dramaturgo hoje? É possível um processo formativo em dramaturgia que dê conta do caráter múltiplo e mutável da escrita teatral contemporânea? Apoiado nas ideias do filósofo Jean-François Lyotard e nas teorias e práticas de Jean-Pierre Sarrazac, o autor reflete sobre a formação dramatúrgica no contemporâneo e a possibilidade de uma pedagogia inteiramente relacionada à produção teatral do nosso tempo. A pesquisa revisa – e propõe – possíveis abordagens éticas e metodológicas para espaços de formação coletiva, sobretudo oficinas de dramaturgia. Para tal, o autor leva em conta a prática de alguns dramaturgos e professores – tais como Joseph Danan, Thibault Fayner, Eric Durnez, José Sanchis Sinisterra e Adélia Nicolete, bem como suas experiências à frente do Núcleo de Pesquisa em Dramaturgia do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte. A pesquisa é parte da dissertação do autor, que será defendida no início de 2017.


PALAVRAS-CHAVE: Formação em Dramaturgia; Dramaturgia Contemporânea; Oficinas de escrita dramática.


O TEATRO DE SARTRE E O USO DO PERSONAGEM ORESTES ENQUANTO APARELHO IDEOLÓGICO


FERREIRA, Lidiane Cristine de Lima. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Pós-Graduação em Estudos Literários – Mestrado.
 

RESUMO

Este trabalho propõe uma leitura da peça Les mouches (1943), de Jean-Paul Sartre – através de sua versão traduzida por Nuno Valadas em 1962, As moscas – com base no mito de Orestes. Esta personagem mitológica conhecida por assassinar a própria mãe em detrimento da honra do pai e da libertação de sua irmã, tem uma de suas primeiras aparições em cena no século V a. C., na peça Oresteia, de Ésquilo e, desde então, continua sendo reinterpretada através dos séculos por diversos dramaturgos. Através da dramaturgia do filósofo Jean-Paul Sartre, no entanto, mais do que um mito recontado, a história de Orestes se apresenta como uma forma de expor as ideias existencialistas da França do século XX para além dos tratados de filosofia, de forma a expandir-se para o campo da ficção e da performance teatral. Devido a essa filosofia existencialista, que defende a ideia de que o que está na base da existência humana é a livre escolha que cada homem faz de si mesmo e de sua maneira de ser, Sartre utiliza do personagem Orestes em Les mouches (1943) para representar esse ser livre, que pode escolher o que quer ser e como sê-lo. Assim, ao analisarmos as ações do mesmo, bem como de outras personagens representadas na peça, percebemos de que maneira esse drama pretende, utilizando-se das tensões próprias do gênero teatral, expor questionamentos existenciais que possam atingir a liberdade humana, ilustrá-la e apontá-la; para que fique a cargo do leitor, refletir sobre suas ações no mundo.


SUBJETIVIDADE DILUÍDA: A FORÇA DO TEMPO NA ESCRITA DRAMÁTICA DE MARGUERITE DURAS
 

LAUREANO, Graziela Daniel. Doutoranda em Artes Cênicas do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
 

RESUMO

 

A proposta visa analisar a questão da temporalidade em obras escolhidas de Marguerite Duras (1914-1996). Podemos ver a expressão da questão da memória e da temporalidade nas seguintes obras durasianas: “Agatha” (1981), “Savannah Bay” (1982), “La maladie de lamort” (1982), “La Musica deuxième” (1985). Tais obras encontram-se na confluência transgressiva dos gêneros peculiar à escrita durasiana, mas denotam grande vocação teatral. Ao colocar em cena a memória em estado de infância, Duras pulveriza ou dilui personagens em espaços, tornando indiscernível a fronteira subjetiva e objetiva, o que pode ser observado na expressão “Savannah Bayc’esttoi”. O tempo, nestas obras é visto nas rubricas como uma solicitação específica, ostensiva (existem outras), como “pausa”, “silêncio”. É possível dizer que o “tempo” participa da “pausa” e do “silêncio”, ou que “silêncio” e “pausa”, participam da solicitação durasiana “tempo”? Em que sentido são distintas e solicitadas separadamente pela autora? Imaginemos uma resposta do ponto de vista prático do ator. Aqui podemos imaginá-lo, o ator, seguindo a rubrica “pausa” como um não movimento, ou a rubrica “silêncio”, como a ausência de som, mas a rubrica “tempo” deixa à criação todo um oceano de possibilidades. Assim, apresento meu estudo como análise da temporalidade como expressão da memória, e como um desafio proposto pela escrita dramática da obra durasiana. 


PALAVRAS-CHAVE: Tempo; subjetividade e memória; escrita dramática.


PRÁTICAS DE ENSINO DE ESCRITA DRAMÁTICA: DO COLABORATIVO AO INDIVIDUAL


ARY, Rafael. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutor em Artes da Cena pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
 

RESUMO

A partir da década de 1990, houve o surgimento e fortalecimento de diversos grupos de teatro no Brasil. As experimentações colaborativas de criação que estes grupos empreenderam produziram um arcabouço de diretrizes de grande potencial pedagógico. Esses processos colaborativos, como foram chamados, fomentaram o aprimoramento, de forma contínua, nas últimas duas décadas, de dramaturgos com características específicas. A grande ocorrência de processos denominados colaborativos revelou uma demanda por formação de dramaturgos e um cabedal de diretrizes pedagógicas que necessitava de direcionamento. Dessa forma, foi criado o primeiro curso profissionalizante de dramaturgia do país, localizado na SP Escola de Teatro. O presente trabalho discorrerá sobre as práticas pedagógicas de ensino de dramaturgia na referida escola, assim como tecerá relações com as práticas de ensino de escrita dramática, desenvolvidas no curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).


PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Ensino; Processo Colaborativo.


DRAMATURGIAS INSURGENTES


Tiago Viudes Barboza. Penápolis-SP. Dramaturgia/SP Escola de Teatro. Pesquisador da Samaúma Residência Artística Rural (SARAR).

RESUMO

Serão abordados aqui procedimentos e ferramentas encontradas pelo dramaturgo durante a criação das obras “nomes” e “SPIRO”, performance e espetáculo construídos a partir de estímulos dramatúrgicos não necessariamente textuais como: movimentos, cantos, comida e, posteriormente, o Tarô de Marselha como ferramenta de guia para o performer descobrir e expressar suas necessidades representativas, se comunicando com convidados e público. O teatro acompanha o fluxo histórico e se transforma, diluindo e perdendo modos que não lidam com a urgência do expressar-se e encontrando novas formas. Com essa perspectiva, a demanda em repensar veículos e formas para a comunicação cênica também é uma demanda do dramaturgo que, nesses dois processos, adotou a metodologia aqui chamada de “mapas de sobreposição”, compondo com elementos não necessariamente textuais, como forma de conduzir os performers e posteriormente o público pelos caminhos desejados, mesmo que as paisagens encontradas ainda dependam do olhar do convidado. Enquanto “nomes” tem como situação um jantar real no qual cantos muito antigos, quadros, conversas e a comida, que vai do amargo ao doce, narram, são elementos dramatúrgicos necessários para comunicar a experiência de um amor a três autobiográfico vivido pelo dramaturgo e seus dois ex-companheiros; em “Spiro”, na qual o dramaturgo trabalhou como convidado do Biloura Theatre Collective, teve como desafio a interculturalidade ao lidar com artistas de diferentes países e línguas e também a multiplicidade de linguagens, compondo o espetáculo com música, dança e teatro. Ambos os trabalhos foram apresentados no Brasil e Europa.

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